segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

É muito ruim estar longe...


Quando alguém da nossa família ou amigo próximo morre. Estou há quase três meses aqui e já passei por essa experiência duas vezes. Não desejo isso prá ninguém. Sempre considerei que, de certa forma, lido bem com a morte, não é um tabu para mim. Pode ser porque comecei a perder pessoas queridas muito cedo e aprendi a entender e aceitar a morte como a etapa final da vida, para a qual nós temos que nos preparar, tanto quanto nos preparamos para esperar alguém nascer. É o fim da jornada. Mas o intervalo, alguém já disse, deve ser bem aproveitado!

No entanto, quando se está longe, receber uma notícia de morte triplica de importância e, porque não dizer, de peso. Na verdade, qualquer notícia, e-mail ou conversa que se tem toma proporções maiores, talvez porque você quer estar perto e ver as coisas acontecendo in loco, poder interagir, interceder, sei lá. Tentar minimizar a sua sensação de impotência e sentir que está fazendo algo em relação àquela determinada situação. Coitada da minha mãe, porque, por conta disso, a encho de perguntas do tipo: O que você fez? Prá onde foram?  Como foi? Quero saber todos detalhes para me sentir dentro do contexto e mais perto da família... uma pentelha, admito!

Nos meus primeiros dias aqui, criei uma espécie de obsessão em relação à saúde das pessoas que estão no Brasil. Sei que isso pode nem ser muito saudável, porque estou longe e não há nada de imediato que posso fazer, a não ser chorar e pegar o primeiro vôo para o Brasil. Mas eu pedi, praticamente implorei, para a minha mãe prá ela me contar sempre tudo o que se passa com a nossa família e amigos. Não quero que me escondam nada, se alguém estiver doente, no hospital ou morrido. E assim está sendo.

Há mais ou menos um mês atrás recebi a notícia que o melhor amigo do meu pai tinha morrido e, ainda, que nos seus últimos dias, falava constantemente que o meu pai estava lá com ele. Fiquei péssima aqui, porque na minha cabeça ele era uma das últimas ligações presentes da juventude do meu pai, da sua fase áurea. Mas, sempre procuro pensar que ele teve uma vida excelente, deixou uma família linda e especial. Chegou a hora dele, foi cedo, mas chegou.

Ontem com dois dias de atraso, minha mãe tomou coragem para me contar (o que eu agradeço imensamente) que a minha querida tia Gilda faleceu. Prima da minha avó, mais de 90 anos. Uma pessoa fantástica e super, hiper presente na minha vida, desde os meus primórdios. Todo domingo, religiosamente, ela ia lanchar na casa da minha avó e me levava revistas para colorir e desenhar, fora outras bugigangas que eu simplesmente a-do-ra-va! O meu primeiro patins de botas, branco com listras e rodas vermelhas - que eu amava e usei até acabar - foi ela que mandou trazer para mim dos Estados Unidos. Antes de competir no meu primeiro campeonato brasileiro de ginástica olímpica no Flamengo, no dia do meu aniversário de 13 anos, foi prá casa dela que eu fui, na Rua Real Grandeza, em Botafogo.

Ela era apaixonada pelo Silvio Santos e uma vez chegou a ir no programa dele participar ao vivo de um quadro. A família toda ficou em polvorosa! Adorava ouvir as histórias sobre os jogos de buraco na casa das amigas, as piadas, as passagens antigas da família. Era de uma irreverência ímpar, engraçada até não poder mais e tinha um sorriso largo inconfundível.

É isso. Nada que eu possa fazer, a não ser lamentar muitíssimo não ter estado mais presente na vida dela nos últimos anos, agradecer por ela ter feito parte da minha vida de um jeito especial e prestar essa pequena homenagem à distância e em público.




TIA GILDA, VAI COM DEUS!

5 comentários:

Josye disse...

tÔ sabendo disso pelo seu blog... Ninguém me contou nada pq eu estava fora...

Sibelle Sparapani disse...

Sinto muito pela sua perda Lilian.
É muito dificil entender e aceitar q pessoas tao amaveis vao embora, principalmente estando longe.
Mas como vc mesma disse.. o importante é o q se viveu aqui e sua tia deixou marcas boas na vida de vcs! VAleu a pena! meus sentimentos...

Lilian Rapp disse...

Beijos, Sibele e obrigada pelas palavras!

Ana Raissa disse...

Sinto muito, Li...
Uma coisa eu aprendi com o Wandel (embora, graças a Deus ainda não tenha precisado colocar em prática): tem coisas que não podemos mudar nem estando perto, quanto mais estando longe...
Fique bem aí!
bjs

Pratamada Brasil disse...

Vc sempre me emociona com seus textos. Também não sabia de nada! Que ela descanse e tenha uma passagem tranquila!
Um beijo, Lila!

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